quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Reinaldo Azevedo denuncia: Dilma está mentindo sobre o aborto




06/10/2010
 às 7:21

Dilma, uma fala sem sentido, o jornalismo sob a autocensura e a história

Caras e caros,
Um texto um tanto longo que trata de três temas com domínios próprios, mas interligados neste caso: o trabalho do jornalismo, o método de um partido e as tramas da linguagem em conexão com a história. No fim de tudo, há até um pequeno passatempo. Vocês vão gostar, acho eu.
*
Boa parte do jornalismo vive sob a forma mais perversa de censura: a autocensura — se é que não estamos diante de coisa pior. Vi ontem Dilma Rousseff no Jornal Nacional. Afirmou o seguinte:“Sou de uma família católica. Eu sou, SEMPRE FUI, a favor da vida, senão eu não tinha (sic), inclusive, colocado a minha vida em risco em determinado momento. Porque só quem é a favor da vida tem condições e a generosidade suficiente para saber que a gente deve, em todas as circunstâncias, afirmar a vida”.
Vejam o filme — que prova, na minha opinião, que Lula cometeu abuso de poder político e econômico ao fazer a pajelança partidária num prédio público.
Antes que analise essa fala e suas implicações políticas e de linguagem, uma observação. Sei que os petistas andam dizendo o diabo a meu respeito na Internet. Não é de hoje. O chato pra eles é que não podem me acusar de lhes atribuir nada que não tenham feito ou dito. Embora já tenha dado uns bons furos aqui, eu denuncio mais imposturas intelectuais e políticas do que falcatruas. E, às vezes, parece que isso incomoda mais do que se eu simplesmente os chamasse de ladrões.
Entendo os motivos. Diante da acusação de uma irregularidade, eles sempre podem dizer: “Ah, mas fulano também faz!”  Provar o fundo falso dos seus argumentos, a sua mentira essencial, mexe com a sua vaidade, com a ficção que criaram para si mesmos: a de grandes paladinos da ética. Então vou fazer o que faço sempre: analisar no detalhe o enunciado, demonstrar que parte dele não faz sentido e provar que a parte que faz é desmentida pela história. E vou, claro, bater um papinho virtual com alguns coleguinhas.
E começo por este último propósito. Com a fala acima, Dilma está afirmando que é  e que sempre foi contra o aborto — embora, no trecho levado ao ar ao menos, não tenha tocado na palavra. Quem a interpreta para a massa é a repórter Délis Ortiz. Pois bem, leitores: qual é a obrigação — NOTEM BEM: OBRIGAÇÃO! — de um jornalista quando uma autoridade ou político de expressão faz uma afirmação em flagrante contraste com os fatos? Pois não houve um só dos demais cristãos presentes que lembrasse Dilma do vídeo abaixo, por exemplo (se você já viu, siga a leitura depois dele), em que responde a uma pergunta feita por Fernando de Barros e Silva, então editor de Brasil da Folha, ou da entrevista à revista Marie Claire, em 2009.
A Folha sabia, portanto, desde 2007, pela boca da própria Dilma, o que ela pensava sobre o aborto. Avancemos.
Ainda que se quisesse dar de barato que, agora, a candidata é contra a descriminação do aborto, o “sempre fui” OBRIGA o jornalista a, no mínimo, indagá-la, nem que seja nestes termos altivos:“Excelentíssima, desculpe se pareço impertinente, não vá se zangar, juro que não quero constrangê-la, estou até muito aborrecido de ter de fazer o meu trabalho, sei que a companheira compreenderá, perdoe-me mesmo!, mas Vossa Alteza não afirmou em 2007 que era a favor da descriminação? Não disse àMarie Claire, em 2009, que era favorável à legalização? Então Vossa Santidade (há jornalista que não sabe que isso é só pra papa, leitor!) mudou de idéia?”
Nem isso! Jornalismo à moda antiga, então, nem pensar:“Candidata, o que a senhora fala agora é diferente do que falou em outras circunstâncias. Mudou de idéia pra se eleger?”
Não seria educado! Os petistas ficariam chateados. Alguns jornalistas ainda chamam a opinião de Dilma, favorável à descriminação, de “boato”.
O método petista
Não se trata de acusar o PT de dizer ora uma coisa, ora outra. O método não é exatamente esse. Reparem que Dilma agora quer que interpretemos que ela é contra o aborto sem nunca ter deixado de ser a favor. Assim como o partido é a favor da Lei de Responsabilidade Fiscal sem nunca ter deixado de ser contra. Assim como pode ser gostosamente capitalista sem abrir mão do socialismo. Aliás, naquele vídeo da Folha, vejam lá, a então ministra diz a Fernando Barros que continua socialista! Deve ser isto que a parte do setor financeiro que a apóia vê nela: pendores socialistas! Tenham paciência!
Assim como outras justaposições do petismo não foram jamais cobradas, também essa vai ficando por aí. O embate, de fato, existe na Internet. Boa parte do chamado jornalismo tradicional se limita a reportar o que está na rede. É uma vergonha! Parece incapaz de informar: “Dilma defendeu a descriminação do aborto em várias entrevistas”. Sabem por que não o faz? Os venais porque trabalham para o PT. E os não-venais porque têm medo da patrulha petista. O partido considera o jornalismo muito ofensivo às vezes…
Agora a fala propriamente
A fala de Dilma é uma coisa espantosa. Estou certo de que o texto era outro, mas ela esqueceu. É por isso que a Palmirinha (exijo a sua volta à TV) usava ponto eletrônico. Vamos ver a sua fala em partes.“Sou de uma família católica. Eu sou, SEMPRE FUI, a favor da vida, senão eu não tinha (sic), inclusive, colocado a minha vida em risco em determinado momento.”
O que esse “senão”, essa conjunção alternativa de sentido ligeiramente adversativo, faz aí? Quer dizer que aqueles que não são favoráveis à vida jamais a põem em risco, é isso? É nesta hora que a petezada realmente se enfeza comigo — e até alguns amigos me aconselham: “Fique longe disso!”… Eu não!
Pra começo de conversa, Dilma não botou apenas a sua vida em risco, mas também a dos outros. Os grupos terroristas aos quais pertenceu mataram pessoas inocentes. Verdade ou mentira? Acusação ou fato? Mera lorota “da direita” ou verdade documentada?
Mais: é uma bobagem esse negócio de que só quem é a favor da vida a põe em risco. Homicidas compulsivos também podem ser suicidas, como sabem Hitler e Goebbels, para citar dois casos muito famosos. Escarafunchando a psicanálise, aliás, pode-se chegar bem perto da conclusão de que os que se põem permanentemente em risco não respeitam muito a vida alheia também. A especulação de Dilma é histórica, ética e psicologicamente furada!
O mais fabuloso, no entanto, vem agora, nesta verdadeira explosão tautológica — e vou lhes propor um exercício. Atenção!“Porque só quem é a favor da vida tem condições e a generosidade suficientepara saber que a gente deve, em todas as circunstâncias, afirmar a vida”.
Hein???
Troque a palavra vida por, sei lá, “Corinthians”. A frase fica assim:“Porque só quem é a favor do Corinthians tem condições e a generosidade suficiente para saber que a gente deve, em todas as circunstâncias, afirmar o Corinthians”.
Troque Corinthians por uma fatia de mortadela. A frase fica assim:“Porque só quem é a favor de uma fatia de mortadela tem condições e a generosidade suficiente para saber que a gente deve, em todas as circunstâncias, afirmar a fatia de mortadela”.
O que ela quis dizer mesmo? Uma frase em que “a vida” pode ser substituída  pelo “Corinthians” ou por uma “fatia de mortadela” significa qualquer coisa — muito provavelmente, nada! Peça para seu filho de cinco anos criar a sua própria versão do enunciado.
Para encerrar
E não lhes escapou que, não tendo como negar o que antes dissera nem a histórica militância do PT a favor da legalização do aborto, restou tentar resgatar do baú o vitimismo triunfante da militante. Inescapável constatar que mesmo os porões do regime militar tiveram com Dilma mais generosidade do que o Colina e a VAR-Palmares, grupos a que ele pertenceu, tiveram com as pessoas que eles assassinaram. Ou a vida daquelas pessoas não valiam nada porque não tinham pedigree militante?
Defesa da vida “em todas as circunstâncias”, menos daquelas, não é mesmo, candidata?
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UM PS GRANDE - Seria muito bom para “eles” se pudessem dizer: “Como esse Reinaldo ofende todo mundo, faz acusações, mente! Vamos processá-lo!”  Pois é! Mas não podem. Não há uma só ofensa neste texto, uma só acusação, uma só mentira. Não sou pretensioso a ponto de dizer que eles não suportam as verdades do meu texto. Não me jacto de minhas pretensões iluministas — deixo essa tarefa de vaga-lume  para meus amigos de esquerda. Não suportam é que eu possa ter da verdade dos fatos uma leitura que não coincide com a deles. Em suma, não suportam é a liberdade. Como já disse Lula , o pensador, é preciso dar a “notícia certa”!
Por Reinaldo Azevedo



YouTube cria uma forma de censura contra pastor evangélico. Quem pediu?

Um vídeo no YouTube foi visto, segundo sei, por mais de quatro milhões de pessoas. O pastor Paschoal Piragine Jr., da Primeira Igreja Batista da Curitiba, expõe os motivos por que os fiéis, segundo ele, não devem votar no PT— e a descriminação do aborto é uma delas. Como sabem, não postei o vídeo aqui porque poderia parecer endosso a tudo o que Piragine diz. E tenho algumas boas divergências. Mas isso agora é irrelevante.
Ocorre que o Youtube passou a pedir senha ou registro para que o vídeo possa ser acessado (aqui) . Lê-se a seguinte mensagem:
“Segundo a sinalização da comunidade de usuários do YouTube, este vídeo ou grupo pode ter conteúdo impróprio para alguns usuários”.
Epa! Aí não dá! Impróprio para quem? Especialmente para os petistas, não? Quantos são os vídeos no YouTube que esculacham os tucanos e todos aqueles que o PT considera adversários? Falar mal do partido, agora, deve ser algo escondido, como se o Internauta usasse a Internet para ver pornografia? É uma forma de censura. Não se trata de expor a intimidade de ninguém ou de calúnia. É uma crítica politica, concorde-se ou não com ela.
Há outro arquivo do vídeo aqui. Essa gente vai ter de aprender a viver num país livre!
Por Reinaldo Azevedo


“Eu me sinto honrado por ter sido suspenso pelo PT por ter defendido a vida”

Por Marcelo de Moraes, no Estadão:
Em setembro do ano passado, o deputado federal Luiz Bassuma teve suspensos seus direitos partidários dentro do PT pelo prazo de um ano por decisão da direção nacional da legenda. O motivo: era contra a orientação do partido a favor da legalização do aborto. Integrante da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, Bassuma preferiu pedir sua desfiliação do PT, entrando no PV de Marina Silva e disputando o governo da Bahia pelo partido. Agora, com a questão da legalização do aborto tirando votos da candidata Dilma Rousseff, Bassuma critica o que considera mudança de opinião da petista em relação ao assunto. “Acho que vai piorar a situação dela se mentir sobre o aborto por razões eleitoreiras. Vai ser um tiro no próprio pé”, afirma.
O senhor foi punido pelo PT por ser contra a legalização do aborto. Agora, esse tema passou a ser um dos principais problemas da campanha presidencial de Dilma Rousseff e o PT se esforça para dizer que não defende a proposta. Qual é a sua avaliação sobre isso?Ninguém pode apagar a história. Fui punido com um ano de suspensão pelo PT apenas por querer continuar a favor de uma ideia que sempre defendi. Não queria que ninguém pensasse igual a mim. Só queria que o partido respeitasse meu direito de ter opinião diferente.
O senhor acha que o PT agiu errado com o senhor?Cumpri quatro mandatos pelo PT e um dos motivos que me fizeram ser filiado ao partido era justamente o artigo interno que permitia aos integrantes terem direito à liberdade de opinião, de religião, de pensamento. Comigo não valeu.
O senhor acha que há setores do partido que realmente são contra o aborto?É possível. Mas fui punido quase por unanimidade pela direção do partido por ser contra a proposta. Dilma era a ministra chefe da Casa Civil na ocasião. Durante a análise do meu caso, o PT deixou claro que é a favor da legalização e não concordo.
Nos últimos dias, a candidata Dilma tem negado publicamente ser a favor do aborto. O PT, então, deveria propor uma punição interna para ela como fez no caso do senhor?Acho que eles têm de assumir a verdade e dizer o que pensam sobre o assunto. Vai piorar a situação dela se mentir sobre o aborto por questões eleitoreiras. Vai ser um tiro no próprio pé. Na minha opinião, ela é materialista. O presidente Lula não. Todo mundo sabe que ele realmente tem uma posição diferente. Ele sempre disse que era contra o aborto.
Esse tratamento mais flexível do PT sobre o tema faz com que o senhor se sinta injustiçado por ter sido punido?Pelo contrário. Eu me sinto honrado por ter sido suspenso pelo PT por ter defendido a vida. Essa é a bandeira da minha vida. Minha principal causa política. E o PT não respeitou esse meu direito. Envergonhado eu estaria se tivesse defendido o mensalão. Eu acho que o aborto significa matar uma vida.
Sua candidata, a senadora Marina Silva, está fora do segundo turno. Entre José Serra e Dilma Rousseff, quem o senhor pretende apoiar no segundo turno?O PV e Marina ainda vão definir suas posições sobre a sucessão presidencial. Mas eu vou votar e fazer campanha por José Serra em Salvador. Já estou anunciando esse meu apoio publicamente.
Por Reinaldo Azevedo


Números fantasiosos sobre o aborto tornam-se ética iluminista

Não! Eu não faço debate oportunista sobre o aborto. Todo mundo sabe qual e a minha opinião desde que o blog existe — e antes, nos veículos em que escrevi. Já enfrentei toda sorte de acusação — “obscurantista” e “atrasado” são só as mais suaves. Há quem ache a curetagem ou a sucção uma manifestação de iluminismo. É um jeito de ver o mundo; não é o meu. A China, o país em que mais se fazem abortos no mundo,  deve ser a pátria das Luzes!
Os abortistas gostam de números. Exibem-no de boca cheia e cabeça vazia. Peço licença para reproduzir aqui um post do dia 2 de agosto — a polêmica envolvendo Dilma Rousseff nem estava dada ainda. Leiam com atenção, e com atenção especial aos números, por favor. Volto para encerrar.
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Fantástico levou ontem ao ar uma longa reportagem que fez a defesa sub-reptícia da legalização do aborto, embora não se tenha tocado nessa expressão em nenhum momento. Escolheu-se o chamado método do terrorismo didático: convencer pelo horror. Câmeras escondidas flagraram clínicas clandestinas e carniceiros variados para evidenciar que, proibido embora - exceto em caso de estupro e risco de morte da mãe -, o aborto é feito à larga. O corolário restou subjacente: se é assim,  a proibição é uma hipocrisia e se legalize de vez a prática para preservar a saúde das mulheres.
A tese é ruim. Que outras ilegalidades deveriam ser tornadas legais já que a gente não pode mesmo coibi-las totalmente? Levada ao limite, em vez de combater os criminosos, as sociedades deveriam legalizar o crime. Tudo seria da lei. Voltaríamos ao estado da natureza. E deixo de barato que a defesa da “saúde da mulher” ignore, no caso, a vida do feto.
Uma tese ruim irrita, sim. Mas o mais constrangedor da reportagem, depois do método didático-terrorista, é a manipulação desajeitada de supostas estatísticas ou pesquisas, o que levou o site do Fantástico a cravar na manchete: “Uma em cada cinco mulheres já fizeram aborto no Brasil”. De onde saiu tal formulação?
De uma pesquisa realizada por um grupo da UnB. Com voz muito pausada, sílabas escandidas de indignação cívico-militante, óculos que anunciam “sou uma pensadora”, a antropóloga Débora Diniz explica o que segue (leiam com atenção):“A pesquisa nacional de aborto, cobriu todo o Brasil urbano, que são as capitais, e as grandes cidades, ou seja, ficou de fora o Brasil rural, porque não podíamos incluir mulheres analfabetas. As pesquisadoras entraram na casa das mulheres, com uma urna secreta, as mulheres de 18 a 39 anos, elas recebiam uma cédula que constava de cinco perguntas, e uma delas é, ‘você já fez aborto?’. O que nós sabemos é que uma mulher em cada cinco, aos 40 anos, fez aborto. Significam 5 milhões e 300 mil mulheres em algum momento da vida, já fizeram aborto. Metade delas usou medicamento, nós não sabemos que medicamento é esse; a outra metade precisou ficar internada pra finalizar o aborto. O que isso significa? Um tremendo impacto na saúde pública brasileira. Quem é essa mulher que faz aborto? Ela é a mulher típica brasileira. Não há nada de particular na mulher que faz aborto”.
É evidente que se trata de um discurso em favor da legalização do aborto. Ocorre que a fala da antropóloga é um queijo suíço, que só convence os incautos:1 - Qual é a cientificidade de sua amostragem?2 - Qual é o tamanho da amostra?:3 - Quer dizer que “todo o Brasil urbano são as capitais e as grandes cidades”? Quem disse? Segundo qual ciência?4 - Todas as mulheres do campo são analfabetas?5 - Se a antropóloga confessa que o Brasil rural ficou fora da “pesquisa”, então é mentira que uma em cada cinco mulheres já fez aborto. Como posso afirmar isso? Ora, é ela quem afirma quando confessa que sua amostra não representa o Brasil.6 - Se o mal enxergado pela intelectual da voz pausada é o impacto na saúde pública, seria menor tal impacto no caso da legalização? Um aborto legal dispensa a curetagem ou a sucção?7 - O que a doutora Débora entende por “mulher típica brasileira”? Ainda que fosse verdadeiro o chute de que uma em cada cinco mulheres entre 18 e 39 anos já fez aborto, isso significaria, então, 20% do total. Com a devida vênia, doutora, a “mulher típica” é aquela dos 80% que não fizeram, certo? Por mais que a senhora tente transformar o aborto numa banalidade como “me passa o açúcar”, ele continua, até na sua pesquisa, uma exceção.
Defender a morte de um feto é difícil, reconheça-se. Por isso essa gente gosta tanto de estatísticas e números. Um dado fornecido por uma pesquisa do Instituto do Coração, da USP, foi considerado “espantoso” pelo Fantástico:“Entre 1995 e 2007, a curetagem depois do procedimento de aborto foi a cirurgia mais realizada pelo SUS: 3,1 milhões de registros”.
Querem ver como, às vezes, falta ao editor ou puxar as orelhas dos repórteres ou usar calculadora que faça apenas as quatro operações (já nem digo ler o conjunto da obra em busca de incongruências)? 3,1 milhões de curetagens em 13 anos dão uma média de 238.461 procedimentos por ano. Atenção! Perguntem a especialistas da área e eles lhes dirão: 25% das gestações resultam em abortos espontâneos. Nascem, por ano, no Brasil, mais ou menos 2,8 milhões de crianças.
Vamos supor, meus caros, só para efeitos de pensamento, que não houvesse um só aborto provocado no Brasil: aqueles 2,8 milhões seriam apenas 75% das gestações — ao todo, elas somariam 3,73 milhões. REITERO: VAMOS FAZER DE CONTA QUE NÃO EXISTEM ABORTOS PROVOCADOS. Ora, só os abortos espontâneos chegariam, então, a 930 mil por ano. Como INEXISTE NOTIFICAÇÃO NOS HOSPITAIS PARA DISTINGUIR CURETAGEM DECORRENTE DE ABORTO ESPONTÂNEO DE CURETAGEM DECORRENTE DE ABORTO PROVOCADO, chega-se à conclusão de que os quase 240 mil procedimentos são um número “espantoso”, sim, Fantástico: ESPANTOSAMENTE BAIXO!
Se encontrarem furo lógico aí, cartas para o blog!
O número significa ainda mais — e mais grave: o SUS não tem, então, estrutura para atender nem mesmo os casos de abortos espontâneos. Imaginem o que poderia acontecer com um aumento da demanda em caso de legalização.
As pessoas defendam o que bem entenderem. Faço o mesmo. Não gosto é que tentem me iludir com estatísticas furadas, que não resistem a uma conta de dividir e a uma regra de três. O que me incomoda na defesa da legalização do aborto é que se tenta compensar a penúria ética da tese com números. E números, lamento, podem auxiliar na criação de uma moral, mas não a substituem.
Ora, tenham a coragem, então, de defender o aborto como “um direito” e ponto final! Poder ser horrível, mas é, ao menos, intelectualmente mais honesto. E sem essa de chamar militante de “especialista”. Militante só é especialista da própria causa.
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Volto ao dia 6 de outubroNão adianta me acusar de “católico”. Não é acusação, mas fato. E também uma facilidade. Tentem contestar é a lógica do texto.
Por Reinaldo Azevedo


Coordenador da campanha de Dilma tentou legalizar o aborto

Por Johanna Nublat, na Folha:
“Nossa posição é muito clara: na linha favorável à descriminalização do aborto.” A frase é do deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Foi dita em julho de 2008, quando o deputado orientava a votação dos colegas de partido sobre projeto de lei para legalizar o aborto.
Anteontem, em meio à polêmica que o tema provocou, Cardozo afirmou que a posição oficial do PT a favor da descriminalização do aborto não é consensual. A candidata petista mudou sua opinião sobre o assunto, se dizendo favorável à legalização em 2007 e afirmando ser contra neste ano. Em 2008, Cardozo e o deputado José Genoino (PT-SP) tentaram, sem sucesso, aprovar a proposta no Congresso.
A descriminalização do aborto também foi encampada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, órgão criado no governo do presidente Lula. Constava das prioridades do 1º Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2004) a revisão da “legislação punitiva que trata da interrupção voluntária da gravidez”.
Em 2008, o governo lançou uma segunda versão, desta vez sem referências explícitas à liberação do aborto. A assessoria da ministra Nilcéa Freire (Mulheres) disse que ela não se pronunciaria.
Por Reinaldo Azevedo