sábado, 31 de julho de 2010

Finalmente alguém que usa calça comprida resolveu reagir


Bispo de Guarulhos diz que não recuará em mobilização contra Dilma


FÁBIO ZAMBELI DE BRASÍLIA
Pivô da polêmica mobilização contra Dilma Rousseff, o bispo de Guarulhos (SP), d. Luiz Gonzaga Bergonzini afirma que não recuará e levará sua manifestação de veto à presidenciável às missas e celebrações das 37 paróquias da cidade.


Ele considera o PT favorável à descriminalização do aborto e divulgou artigo recomendando aos católicos que boicotem a petista.


Governado desde 2001 pelo PT, o município é o segundo colégio eleitoral do Estado, com 788 mil votantes. A campanha informal alicerçada na diocese desagradou o prefeito Sebastião Almeida.


"Sou católico e respeito a posição do religioso. Mas não posso concordar com a transformação de uma posição doutrinária da Igreja Católica em apoio ou rejeição a qualquer candidato."


Em entrevista à Folha, d. Luiz Gonzaga, 74 anos, diz não ter nada pessoal contra a candidata, mas é irredutível, mesmo após as recorrentes negativas da ex-ministra da Casa Civil.


"Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não."


Leia os principais trechos da entrevista concedida pelo bispo.


Folha - Mesmo com a recomendação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pela neutralidade na campanha, o senhor decidiu explicitar sua posição contrária à candidata Dilma Rousseff. Por quê?


D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Em primeiro ligar, que recomendação é essa? A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos. Eu segui a voz da minha consciência. Sou cristão de verdade e defendo o mandamento "não matarás". Não tem esse negócio de "meio termo".


Folha - A candidata afirma que não defende a descriminalização do aborto. Mesmo assim, o senhor cita o nome dela no artigo.


Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não.


Folha - Como o senhor concluiu que ela tem essa posição? Isso nunca ficou claro e ela nega.


É o terceiro plano de governo que ela adota. Como percebeu que havia reação, foi mudando. Não vou recuar.


Folha - O senhor pretende levar ao conhecimento dos fiéis da diocese essa recomendação de não votar na candidata Dilma?


Os padres devem notificar ao povo a orientação do bispo. Eu não vou arredar o pé, não importa as consequências que eu venha sofrer, mas o que importa é minha consciência e seguir o Evangelho. Eu não tenho medo. O que pode acontecer? Deus saberá.


Folha - Inclusive nas missas, os padres vão tratar do tema? Vão citar o nome da candidata?


Tratar do tema, não. Podem citar o nome dela, porque vou mandar uma carta para os padres notificarem as pessoas da minha recomendação nas missas. Como cidadão, tenho direito de expressar minha opinião e, como bispo, tenho a obrigação de orientar os fiéis.


Folha - O senhor teme algum tipo de retaliação ou reação negativa, seja por parte da CNBB ou de partidários da candidata Dilma?


Sempre tem alguma coisa. Tenho recebido muitos e-mails. Não sei se são ameaças, mas contestando. Mas posso te dizer que muitos de apoio. As pessoas dizem: "finalmente alguém que usa calça comprida resolveu reagir".


Fiquem com Deus e divirtam-se,
Fernando.