Direitos humanos precisam de fundamento superior, segundo o presidente dos médicos católicos
Por Inmaculada Álvarez
ROMA, segunda-feira, 9 de junho de 2008 (ZENIT.org).- É possível estabelecer alguns princípios universais, aceitos por grande parte da humanidade, que possam reger a atividade científica e médica? É o desafio proposto pelo presidente da Federação Internacional de Associações Médicas Católicas (FIAMC), Dr. José María Simón Castellví.
Em um artigo enviado a Zenit, o presidente da FIAMC afirma que «a inspiração que impulsiona a ciência, suas metas, os meios que escolhe, etc., estão fora da própria ciência», e que, portanto, é necessário estabelecer princípios bioéticos universais para evitar que a ciência se converta em um instrumento de destruição.
«Às vezes encontramos casos nos quais uma argumentação sedutora pode conduzir a decisões imorais por parte dos cientistas, a quem, apesar de sua boa vontade, falta reflexão ética», afirma Simón Castellví, que compara a situação atual com a dos experimentos científicos aberrantes realizados sob o regime nacional-socialista .
«Os fins para os alemães eram plausíveis: uma maior felicidade para o povo alemão, onde se insinua uma ideologia que corrompe muitas decisões, tanto políticas como científicas, porque se reduz ao fim que justifica os meios. Dê-me um bom fim e justificarei qualquer meio, ainda que em uma primeira leitura este meio seja reconhecido como claramente criminoso.»
A negação das crenças tradicionais veio acompanhada não de ausência de religiosidade, explica o presidente da FIAMC, mas de uma série de crenças «míticas», como a da sociedade do bem-estar, ou a máxima felicidade, ou a eliminação da dor.
«Todos estes fins são aparentemente bons, mas muitas vezes vêm minados pela perversa ideologia do fim que justifica os meios. Hoje, esta ideologia abominável sobrevive graças a formas mais sofisticadas: favorecendo a eutanásia, promovendo a esterilização obrigatória em certos países, impondo o aborto seletivo nos fetos femininos, etc.»
«Nunca se pode fazer um mal para chegar ao bem. E tampouco se pode fazer um mal menor para chegar ao bem. Segundo o caso, pode-se tolerar um mal menor, mas nunca cometê-lo», afirma.
Deus é necessário
Segundo o Dr. Simón Castellví, muitos «fizeram um esforço para dar um código de bioética válido para toda a humanidade», e a expressão mais importante da busca de alguns princípios universais é a codificação dos Direitos Humanos em 1948.
Contudo, ainda que se trate de «um texto bem redigido e útil como referência para que as diversas culturas colaborem entre elas», se não se admite um princípio anterior que os sustente, eles se reduzem a um texto legal interpretável a partir de qualquer ponto de vista.
«Os Direitos Humanos não se criaram ex novo, mas respondem a uma tradição secular que se adentra na profundidade dos tempos», na lei natural. «A lei natural moral existe: é a capacidade da razão humana de conhecer e aderir à verdade. Para mim, a nenhum profissional toca como um médico a existência desta lei.»
«No meu juízo e no de milhões de pessoas, não só devemos buscar o bem dos homens, mas devemos deixar espaço para Deus. Não direi nada de Deus. Só o cito, como faz o astrofísico Stephen Hawking em seu livro ‘Brevíssima história do tempo’.>