EPTV via O GLOBO
SÃO PAULO - A pequena Patrocínio Paulista, 15 mil habitantes, a 385 km da capital paulista, está movimentada nos últimos dias. Nos últimos dois dias, quase 150 pessoas visitaram o túmulo de Marcela de Jesus Ferreira, o bebê que nasceu sem cérebro(sic) e, desafiando a Medicina, sobreviveu um ano, oito meses e doze dias. Marcela morreu às 22h de sexta-feira após engasgar com leite e foi enterrada sábado.
O caso de Marcela ficou conhecido em todo o país. Ela poderia ter morrido no dia em que nasceu. Enquanto sobreviveu, Patrocínio Paulista contabilizou 159 sepultamentos, onde a média de mortos é de oito por mês. No mesmo período, em que raramente saiu dos braços da mãe e do berço, foram registrados 319 nascimentos no Cartório de Registro Civil.
O zelador do cemitério de Patrocínio Paulista, José Antônio Cícero, 59, disse que não tinha visto nada igual em dez anos de trabalho.
- Não tinha visto coisa igual. No domingo, veio muita gente visitar o túmulo dela, principalmente de manhã. Hoje [segunda-feira], eu esperava um dia calmo, mas continuou chegando gente - afirmou Cícero, em entrevista ao jornal "A Cidade".
Cícero também contou que poucos acenderam velas. A maioria manteve-se silenciosa à beira do jazigo 21, quadra 2.
- Não sei se por curiosidade ou fé, as pessoas chegavam, rezavam e iam embora - disse o zelador.
A menina começou a passar mal às 7h de sexta-feira, após ingerir leite via sonda, e teve vômito aspirativo. Márcia Beane, a pediatra que cuidou dela desde o nascimento, afirmou que ela morreu por ter aspirado o leite pela boa e pelo nariz.
Médicos estimaram em dois meses seu período de vida. Também havia o receio de que morresse durante o parto. Por isso, quando veio ao mundo, às 13h30 do dia 20 de novembro, no quarto dois da Santa Casa, o padre Cassiano fez o batismo imediatamente. No mesmo dia, à tarde, foi registrada com o nome de Marcela de Jesus, em homenagem ao padre Marcelo Rossi.
Marcela resistiu bravamente graças à boa reação de seus órgãos vitais - coração, pulmão e rins.
- Marcelinha mudou minha vida. A gente pensa que sabe tudo. Ela ensinou que não se deve fazer pré-diagnóstico. Sou outra pessoa, mais humilde, conformada com minhas limitações - disse a pediatra ao jornal.