Eis um ótimo artigo sobre a questão das pesquisas com embriões escrita pelo bispo de Dourados, Dom Redovino. Fiquei muito feliz ao notar que esta reflexão se apoiou nos subsídios do trabalho de pesquisa e tradução feita pelo Cultura da Vida sobre a definição científica do início da vida. É uma grande alegria ver bons frutos saindo deste pequeno espaço em defesa da dignidade da vida humana.
25/04/2008
Células-tronco embionárias, uma questão de fé ou de ciência?
Dom Redovino Rizzardo,cs - Bispo de Dourados/MS
Em debates acontecidos ultimamente em universidades e nos canais de TV sobre o recurso às células-tronco embrionárias para combater doenças, sobretudo degenerativas, foi repetido até a exaustão que, em se tratando de ciência, a crença religiosa nada tem a dizer. São campos tão diferentes que, se a religião teimar em intervir, é a própria humanidade que sai prejudicada...
O "x" da questão - o grande debate que se trava hoje na ciência - é saber quando começa a vida humana: se a partir da concepção, momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozóide, como defende a Igreja Católica e grande parte dos cientistas e médicos, ou dias, semanas e meses mais tarde - ou ainda, como alguém já se atreveu a proclamar, somente após o nascimento.
Vejamos o que pensam médicos que, pela autoridade que os envolve como cientistas, falam sobre o assunto, independentemente da fé que uns professam e outros não conhecem.
Keith L. Moore, da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto, Canadá: «O desenvolvimento humano começa na união dos gametas masculino e feminino durante um processo conhecido como fertilização (concepção)».
Jan Langman, da Universidade de Virgínia, Estados Unidos: «O desenvolvimento do ser humano inicia com a fertilização, processo pelo qual duas células altamente especializadas, o espermatozóide do homem e o óvulo da mulher, se unem para dar existência a um novo organismo, o zigoto».
Ronan O''Rahilly, da Universidade da Califórnia, Estados Unidos: «Embora a vida seja um processo contínuo, a fertilização é um terreno crítico porque, sob várias circunstâncias ordinárias, um novo e geneticamente distinto organismo humano é formado. A combinação dos 23 cromossomos presente em cada pró-núcleo resulta nos 46 cromossomos do zigoto. Dessa forma, o número do diplóide é restaurado e o genoma embrionário é formado. O embrião agora existe como uma unidade genética».
Lee M. Silver, da Universidade de Princeton, Estados Unidos: «Deixem-me contar um segredo: o termo "pré-embrião" é defendido energicamente pelos promotores da fertilização in vitro, por razões certamente não científicas. O termo é usado em arenas políticas - onde se tomam decisões para permitir que o embrião mais novo seja pesquisado - e em escritórios médicos, onde é usado para aliviar preocupações morais de pacientes que recorrem à fertilização in vitro. "Não se preocupe - o médico pode dizer -, é apenas um pré-embrião que estamos congelando ou manipulando. Ele só se tornará embrião humano se o devolvermos ao seu corpo».
Seguindo o exemplo de vários outros países, em 2005, o Brasil aprovou a Lei da Biossegurança, que permite o uso de embriões congelados há mais de três anos para pesquisas e terapias - lei que foi e continua sendo questionada pela Igreja Católica e por outras entidades que se dedicam à defesa e à promoção da vida.
De acordo com o Dr. José Gonçalves Franco Júnior, tais embriões permanecem sempre "viáveis", ou seja, se utilizados adequadamente, o que encerram é uma vida humana: «É uma loucura afirmar que embrião congelado há mais de três anos é inviável. E isso não tem nada a ver com religião. A viabilidade é um fato, e ponto. Os maiores centros de reprodução na Europa defendem o congelamento de embriões como forma de evitar a gravidez múltipla».
Um documento assinado por um grupo de médicos reunidos em Brasília, no dia 26 de março, tentou jogar um pouco de luz no emaranhado de opiniões que circulam pela imprensa: «No segundo semestre de 2007, dois importantes trabalhos científicos, um dos quais de um grupo norte-americano liderado pelo Dr. Thomsom (o primeiro a obter uma linhagem de células-tronco embrionárias humanas), e outro, coordenado pelo Dr. Yamanaka, no Japão, mostraram a possibilidade de se obter, a partir de células-tronco adultas do próprio paciente, células-tronco humanas pluripotentes sem clonagem e sem destruir o embrião».
Um dos refrões que eu ouvia de meus avós quando criança, me avisava: «É inútil fechar a porteira quando o gado fugiu para o pasto!» É o que acontece na sociedade atual: se os embriões congelados podem ser instrumentalizados ou destruídos, ninguém se admire se, dentro de pouco tempo, o progresso da civilização nos levar a três mil anos atrás, na Grécia, onde as crianças que nasciam doentes ou defeituosas eram jogadas no mar. Ou para os tempos atuais, na Holanda, onde os idosos buscam os países vizinhos para fugir da eutanásia... que eles mesmos aprovaram quando eram jovens!