segunda-feira, 14 de abril de 2008

Por uma comunicação mais eficaz em favor da vida

Por Paul Swope

O movimento pró-vida defende um princípio vital para a civilização: a inviolabilidade da vida humana. Para influir de fato na opinião pública, é necessário melhorar a comunicação, de forma a responder às preocupações reais das mulheres. Com base em campanhas de televisão bem sucedidas nos EUA, Paul Swope propõe uma nova estratégia pró-vida em artigo publicado na revista First Things, do qual apresentamos aqui um resumo.

Os últimos estudos psicológicos sobre o processo mental das mulheres que abortam permitem entender por que os movimentos pró-vida não foram tão eficazes quanto seria de se esperar para convencê-las a apostar pela vida. Esses estudos indicam que a americana moderna em idade de ter filhos não vê o aborto na mesma moldura moral que a ativista pró-vida. A nossa mensagem não é bem recebida porque cometemos o erro de pensar que as mulheres, especialmente aquelas que enfrentam o trauma de uma gravidez não desejada, responderão aos princípios que nós consideramos evidentes de acordo com a nossa perspectiva moral, e argumentamos em conseqüência. Este é um erro de cálculo que prejudicou gravemente a causa pró-vida. Embora não compartilhemos a forma como muitas mulheres focalizam o tema, a importância da nossa missão e o imperativo de ser eficazes torna necessário que escutemos, entendamos e respondamos às preocupações reais das mulheres que optam pelo aborto.

Pensa-se hoje que o hemisfério direito do cérebro controla os aspectos emocionais, intuitivos e criativos da pessoa, ao passo que as questões analíticas e racionais são elaboradas pelo hemisfério esquerdo. O estudo do hemisfério direito trata de descobrir as razões emocionais pelas quais tomamos certas decisões ou pelas quais temos certas convicções. Este enfoque tem aplicações óbvias em um tema como o aborto, uma vez que uma mulher em plena crise não consegue resolver seu problema de um modo lógico e .frio, apenas com o hemisfério esquerdo.

A importância da nova ótica é evidente à luz dos resultados revelados por uma ampla pesquisa da Caring Foundation, levada a cabo por uma empresa líder neste tipo de pesquisa. O procedimento consistiu em uma série de entrevistas profundas e exaustivas, para conseguir respostas íntimas emocionais. Os resultados (1995-1997) têm um nível de confiança de 95%.


OS TRÊS MALES

Um dos objetivos era responder a uma questão que há tempos desconcertava os pró-vida. Como é possível que as mulheres – e de modo geral a maioria dos cidadãos –, sejam pessoalmente contra o aborto, mas ao mesmo tempo favoráveis a que seja mantida a sua legalidade? Os pró-vida, ao considerarem que, do ponto de vista moral, não é possível sustentar ao mesmo tempo que o “aborto mata” e que o “aborto deve ser legal”, tentaram mostrar com maior clareza que o feto é um ser vivo. Supõem que, ao assumir a humanidade dos não-nascidos, o imperativo moral lógico “não se deve matar um bebê” prevalecerá de modo natural e, conseqüentemente, as mulheres escolherão a vida para seus filhos não-nascidos.

A nova pesquisa mostra que essa formulação do problema foi pouco eficaz e pode ser melhorada. As mulheres pensam que, de uma gravidez não planejada, não pode resultar nada de bom. Por essa razão, hesitam entre aquilo que consideram três males: maternidade, adoção ou aborto.

A maternidade não planejada, de acordo com estes estudos, representa uma ameaça grave para as mulheres modernas. Isso porque muitas mulheres jovens desenvolveram uma identidade que simplesmente não contempla a possibilidade de serem mães. Pode abranger coisas como fazer a Universidade, obter um título universitário, conseguir um bom trabalho e, até, casar algum dia; mas a maternidade é percebida por elas como uma intrusão repentina nos seus planos, como uma perda total de controle sobre a sua vida presente e futura.

Ao considerarem a decisão de abortar, não o fazem, como podem pensar os pró-vida, pesando as opções “levar a termo uma gravidez não desejada” ou “destruir a vida de uma criança inocente”. Elas sentem a alternativa de um modo diferente: “a minha vida acabou” ou “a vida desta criança precisa acabar”. A partir desta perspectiva, a escolha do aborto se transforma em um modo de defender-se, posição mais defensável tanto para a protagonista quanto para aqueles que a apóiam.


POR QUE REJEITAM A ADOÇÃO

A adoção, infelizmente, é para elas a “pior” das três opções. Representa uma “dupla morte”: primeiro, a “morte própria”, pois deverá levar a gravidez até o final para depois tornar-se uma mãe ruim, capaz de entregar seu filho a estranhos; e segundo, a “morte” do filho, “abandonado”, pelo qual ela viverá atormentada.

Mesmo que desejemos que a mulher aceite o slogan “Adoção sim, aborto não”, este estudo conclui que diante da alternativa adoção/aborto, a adoção sairá perdendo. A atitude dessas mulheres em relação ao aborto é bastante surpreendente. Em primeiro lugar, todas as entrevistadas (nenhuma era “pró-vida” e todas se diziam partidárias da “escolha”) reconheciam que o aborto mata. Embora esta convicção esteja, sem dúvida, “inscrita no coração humano”, o mérito de ter mostrado isso corresponde ao trabalho educativo levado a cabo pelo movimento pró-vida. Em segundo lugar, essas mulheres reconhecem que o aborto é mau, é um erro, e que Deus castigará aqueles que o praticarem. Terceiro, acreditam que serão perdoadas por Deus, porque Ele é clemente e elas não tinham intenção de engravidar, e porque em semelhante situação “não havia opção”, na medida em que era a vida delas que estava em jogo.

Em poucas palavras, o aborto é considerado por elas como o menor dos três “males” porque oferece a maior garantia de esperança de preservar seu “eu”, a sua própria “vida”. É preciso destacar que a principal preocupação entre as três opções gira em torno da mulher e não do não-nascido, e assim fica explicado o atrativo pela retórica “pró-escolha”. Escolha que concede à grávida em crise certa sensação de controle sobre o seu futuro, e ao mesmo tempo permite àqueles que rejeitam o aborto pessoalmente experimentar compaixão por aquelas que recorrem a ele.


POR QUE A REJEIÇÃO?

O relatório revela outra fonte fundamental de frustração e fracasso do movimento pró-vida: um quarto de século de pesquisas mostrou reiteradas vezes que a maior parte dos americanos rejeitam o aborto e que as mulheres são ligeiramente mais pró-vida que os homens. Porém ambos gostam mais do rótulo “pró-escolha” que do pró-vida.

A pesquisa indica que a dificuldade de obter apoio público não é devida ao trato injusto recebido por parte dos meios de comunicação, embora este fator tenha sem dúvida um papel importante. Os slogans dos movimentos pró-vida e as campanhas educativas tenderam a agravar o problema porque estavam centrados quase que exclusivamente no filho não nascido e não na mãe, provocando assim ressentimentos em vez de despertar simpatia, particularmente nas mulheres em idade de ter filhos. Por essa razão, é lógico que as primeiras pessoas que perceberam a necessidade de um enfoque diferente tenham sido aquelas que trabalhavam diretamente com as mulheres em crise.

Consideremos um exemplo de frase pró-vida: “O aborto faz que um coração pare de bater”. Mesmo que essa frase seja eficaz entre os pró-vida, o seu efeito entre mulheres jovens em crise provavelmente será: 1) provocar raiva contra a mensagem; 2) confirmá-las na opinião de que os pró-vida não entendem a sua situação; 3) mergulhá-las ainda mais numa atitude negativa e desesperançada. Se a meta dos pró-vida é diminuir o número de abortos e não apenas constatar um fato, devemos perguntar-nos se uma mensagem como essa na realidade não é contraproducente.

A pergunta, talvez inconsciente mas fundamental, que a mulher formula para si mesma é: “Como poderei conservar o controle da minha vida?” O movimento pró-vida deve ter em conta o ponto de vista da mulher, e fazê-lo de uma maneira compassiva que reafirme as inatas e íntimas convicções da sua consciência. Sem condenar nem estigmatizar, deve ajudar a mulher a reconsiderar o modo como percebe os três “males” que se lhe apresentam.


UM EXEMPLO DE SUCESSO

A seguinte propaganda para TV foi elaborada pela Caring Foundation. O seu ponto de partida é analisar a situação da mulher e não a da criança, fazendo com que as telespectadoras possam se identificar com a personagem: “Eu tinha 16 anos quando soube que estava grávida de Carrie. Não estava casada e sentia-me profundamente assustada. Algumas pessoas dizem-me hoje que eu deveria ter feito um aborto, mas na verdade nunca me ocorreu pensar que tivesse essa possibilidade só porque tinha um problema. Olhe, não me considero mártir nem heroína, mas realmente não acredito que tivesse opção depois de ter engravidado. Pense nisso você também”.