terça-feira, 16 de setembro de 2008

Médica aponta riscos da interrução da gravidez em caso de feto anencéfalo

A ginecologista e obstetra Elizabeth Kipman Cerqueira defendeu a continuação da gravidez em caso de bebês anencéfalos, durante a última etapa da audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal) que discute a possibilidade de antecipação de parto para esses casos.

Para a médica, a mãe sofre risco durante a gravidez, mas o risco maior é na antecipação do parto, quando a mulher deve passar de três a onze dias internada, sendo que o processo pode até causar ruptura interina e infecção. Elizabeth destacou ainda a carga emocional dessa experiência. "É mais possível que uma mãe que faça aborto sinta remorso e arrependimento, mas a mãe que leva a gravidez até o fim, ou até a morte espontânea, não vai ter remorso de ter feito o que pôde enquanto pôde", afirmou Elizabeth.
A médica começou sua apresentação lembrando que diversos especialistas que se apresentaram na audiência afirmaram que dentro do útero não é possível determinar a morte encefálica. "Quem afirma isso está passando por cima de critérios científicos", afirmou.

O termo aborto gerou controvérsias durante as audiências realizadas pelo STF para discutir a interrupção da gravidez em caso de feto anencéfalo. Os defensores da interrupção evitaram o uso da palavra, preferindo classificar a ação como "antecipação do parto". Por outro lado, os que são contrários à autorização enfatizaram o termo. Mais do que uma questão semântica, o que está em jogo é uma possível ligação da discussão do Supremo com uma iniciativa que é ilegal. Leia mais

Elizabeth destacou um trabalho realizado por estudiosos nos Estados Unidos, que, segundo ela, provou que bebês nascidos vivos e com anencefalia não têm possibilidade de terem a sua morte encefálica determinada, muito menos quando ainda estão dentro do útero.

A obstetra disse ainda que, com 14 semanas, se identifica um caso de anencefalia, mas apenas com 24 semanas é que ela se desenvolve, pois o tecido nervoso continua crescendo, mesmo num feto anencefálico. "O feto é vivo. Seriamente comprometido quando nasce, com curtíssimo tempo de vida, mas está vivo", disse.

Ao final, a médica apresentou um vídeo com depoimentos de duas mulheres com gravidez de bebês sem cérebro. A primeira fez a antecipação do parto e não acha que foi a melhor opção, enquanto a outra optou por prosseguir com a gravidez e acredita ter feito a melhor escolha.

http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/09/16/ult4477u987.jhtm