Maior site de busca na Internet foi condenado em tribunal por recusar vender anúncios a grupos católicos
O movimento antiaborto está, desde quarta-feira, e pela primeira vez, autorizado a comprar espaços publicitários na Internet para condenar a interrupção voluntária da gravidez. O Google, que o tentou impedir, perdeu.
O maior site de busca na internet havia recusado servir de montra para a campanha liderada pelos grupos católicos pró-vida. Concretamente, recusou publicar um anúncio intitulado: "Lei do aborto no Reino Unido: Principais pontos de vista e notícias sobre o direito ao aborto na perspectiva do Instituto Cristão ".
Inconformado, o Instituto Cristão (IC) interpôs uma acção contra o Google, tendo o tribunal decidido a favor dos grupos religiosos, anunciou ontem o Times online. O Google foi condenado, ao abrigo da Lei sobre a Igualdade de 2006 - que terá infringido - e foi obrigado a rever a posição. O IC considerou que a decisão do tribunal é o reconhecimento de que todos têm direito a expressar livremente a sua opinião. "Nós queremos manifestar a nossa posição de forma factual, bonita e sensata", esclareceu Mike Judge.
O Google tinha sido levado a tribunal pelo IC no início do ano, argumentando que a política da empresa constituía uma violação do dever de igualdades. Inicialmente, o Google garantiu que iria lutar nos tribunais para manter o seu ponto de vista, mas acabou por mudar de ideias durante o Verão. A sua nova política aplica-se a nível global.
Consciente de que a questão do aborto é "um assunto emotivo", a empresa aceitou reconsiderar a sua posição, aceitando "criar condições de igualdade que permitam às associações religiosas, ou outras, comprar anúncios sobre o aborto, desde que sejam factuais".
"A questão do aborto é um assunto emotivo e o Google não defende nenhum dos lados em particular. Ao longo dos últimos meses temos recebido uma série de opiniões sobre a nossa política em relação ao aborto. Decidimos levar a cabo uma revisão da estratégia para termos a certeza que seremos justos e coerentes com os costumes e práticas locais", referiu a empresa em comunicado.
No entanto, não é clara a fórmula que o Google poderá encontrar para introduzir publicidade "factual" numa área tão sensível. Sobretudo, considerando que os grupos antiaborto estão dispostos a utilizar imagens de fetos que resultam de uma interrupção voluntária da gravidez para fazer valer a sua posição. Aliás, o IC já fez saber que interpreta a decisão judicial como uma possibilidade de poder usar os anúncios para fazer campanha.
Um porta-voz da Marie Stopes International, uma instituição que realiza abortos ambulatórios, está de acordo com a decisão do tribunal. "No debate sobre a questão do aborto, é importante que todos os lados tenham direitos iguais para expor os seus argumentos".
No entanto, a organização disse estar preocupada com a possível "distorção dos factos". "Nós traçamos um limite quando as pessoas usam estudos pouco credíveis e argumentos esquivos para fundamentar o seu caso." E dá um exemplo: "As pessoas podem mostrar uma imagem de um de feto abortado com 24 semanas, dizendo que ele tinha apenas 12 semanas". Mike Judge do Instituto Cristão repudiou essa possibilidade. "Nós não somos malucos", afirmou. E insistiu na intenção "de fazer valer a posição católica de forma factual e bonita".
Desde ontem, ao lado dos anúncios antiaborto, encontravam-se inúmeros anúncios para interrupção da gravidez.