sexta-feira, 13 de março de 2009

A Polemica de Recife: O Anonimato

Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
13 Mar 2009


Todo o Brasil está envolvido numa polêmica impactante e inflamada pela emoção, onde se encontram várias pessoas em torno de uma menina de 9 anos e dos seus filhos (gêmeos) de 15 semanas de vida interrompida violentamente pelo aborto.

Sabemos que para uma pessoa, independentemente das suas circunstâncias, um nome é uma identificação importante para ela e para as outras pessoas que se relacionam com ela. Por razões legais - proteção da identidade de menores de idade - essa mãe-menina foi sempre apresentada de costas pela mídia nacional e internacional, e ninguém que teve conhecimento desse infeliz e duro momento da sua vida pelos meios de informação sabe como ela se chama; pelo menos para a população brasileira envolvida na polêmica de Recife essa menina de 9 anos passará a ser mais uma pessoa do grupo dos anônimos.

Entre as dores causadas por essa polêmica no íntimo queria trazer à consideração uma que talvez tenha sido intensa e irradiante, mas pouco refletida por causa da força emocional dos argumentos e também devido aos tons alarmantes das manchetes e das notícias veiculadas na televisão e na internet. Refiro-me à dor do anonimato, pois não nada mais doloroso para uma pessoa, especialmente que está no princípio da sua caminhada de vida, do quer ser mais um número na estatística da violência - estupro e aborto -, além de ser mais um caso para ser discutido pelos políticos e pelas ONGS favoráveis ao controle da natalidade por meio do aborto.
A menina de Alagoinhas com os seus gêmeos mortos não mereceriam ser vistos jamais dessa forma anônima, pois tal visão por parte da mídia e de todas as pessoas que estão discutindo "o caso" relega essas criaturinhas de Deus ao plano inferior de todo ser humano, possuidor de uma dignidade elevada e intransferível: ser alguém merecedora de respeito, de amor e de valorização pelo que é em si mesma, e não pelo que aconteceu com ela e com seus filhos.

Povo brasileiro, receptivo por natureza, acolhedor de tantos povos que aqui, nesse maravilhoso e imenso continente, encontre novamente esta sua vocação natural, que é a de reconhecer a identidade própria dos seus semelhantes bem como dos estrangeiros que aqui chegam a trabalho ou até para fazer turismo. O brasileiro naturalmente se dirige para pedir uma informação de um modo muito peculiar: "irmão, amigo, meu querido, etc.", pois é o estilo nacional de relacionar-se, que infelizmente está se perdendo e a polêmica de Recife demonstra mais uma vez esta dor do anonimato.

A emoção inflamada sempre bloqueia a razão, e com o passar dos dias ainda se encontra levantada a poeira da discussão do "caso da menina de 9 anos", a pessoa "cruel do Arcebispo de Recife" (como se ele fosse mais uma peça do tabuleiro de xadrez e não tivesse sua identidade, não tivesse coração, sensibilidade e não sofresse com tudo isso), e ninguém, a não ser quem preserva e protege o seu bom senso, quer refletir sobre esta dor profunda de ser tratado como um anônimo e como um tema polêmico.

O POVO, jornal que quer informar e formar os seus leitores, recorreu a mim para escrever um artigo sobre a questão que remexeu no espírito dos brasileiros, especialmente dos católicos, e como muito se falou e se escreveu, limitei-me a aborda-la dessa forma, porque uma coisa é absolutamente certa e valiosa: para DEUS não existe anônimos sobre a face da terra e esta verdade consoladora surge como uma luz poderosa para clarear a polêmica de Recife.

"EU TE CHAMEI PELO TEU NOME; TU ÉS MEU", lemos nas páginas da Sagrada Escritura, e a chamada divina foi dirigida a uma menina de 9 anos e aos seus gêmeos para que essas três pessoas fizessem os políticos, os médicos, os padres e bispos, os intelectuais, os estrategistas de campanhas pró-morte e pró-vida, os comunicadores de massa, etc. pensarem na dor de quem não é mais tratado como gente no nosso país.

FONTE: CNBB