segunda-feira, 9 de março de 2009

Coerência católica diante do aborto e da excomunhão

Diante das notícias relativas ao abordo praticado na menina de nove anos que foi estuprada pelo se padrasto em Olinda a primeira coisa que vem à tona é a instrumentalização que a imprensa faz do caso com objetivo claro de banalizar a Igreja católica.

Tendo presente isto se faz necessário que esclareçamos alguns pontos:

1. A Igreja vai defender sempre a vida em qualquer circunstância, desde o momento de sua concepção até o último instante da velhice, até porque ela não pode absolutamente contrariar um dos mandamentos divinos, o de “não matar”. A este propósito, em nota escrita em defesa do bispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB, escreveram: “Nem sempre se pode identificar o que está amparado por leis com princípios éticos e valores morais. Para nós, sempre terá precedência o mandamento do Senhor: “não matarás”. Por isso, a lei civil que considera legítimo o aborto em caso de estupro, é evidentemente uma lei injusta porque vai contra à lei divina de “não matar”, que sendo estabelecida por Deus é superior a qualquer outra lei humana.

2. Como sabemos (pois aprendemos na EdC), para Jesus o valor da pessoa vem antes de qualquer outra coisa. Com efeito, no segundo volume do percurso de EdC, Na origem da pretensão cristã, podemos ler: “O fator fundamental do olhar de Jesus Cristo é que no homem uma realidade superior a qualquer realidade sujeita ao tempo e ao espaço. O mundo inteiro não vale tanto quanto a menor pessoa humana; ela não pode ser comparada a nada no universo, desde o primeiro instante da sua concepção ata o último passo da sua velhice (...). A pessoa goza de um valor e de um direito em si, que ninguém pode atribuir ou tirar. O valor encerra o motivo, o objetivo de uma ação, aquilo pelo qual vale a pena agir ou existir. (...). Por isso, Jesus demonstra na sua existência uma paixão pelo indivíduo, um ímpeto pela felicidade do indivíduo, que nos leva a considerar o valor da pessoa como algo incomensurável e irredutível” (págs 120-121). Evidentemente, a prática do aborto em qualquer circunstâncias for contraria esta concepção que Jesus tem da vida.


3. No que diz respeito à excomunhão, o bispo de Olinda apenas ratificou aquilo que de fato já tinha acontecido; ou seja, quando se trata do aborto a pessoa que o praticou (no caso da menina de nove anos, ela não está comungada, pois foi sua mãe que decidiu realizar o aborto) juntamente com aqueles que o executa, já se excluem automaticamente da Igreja, uma vez que agem de forma totalmente contrária ao que a Igreja afirma e defende: o valor sagrado da vida. Com efeito, o próprio Direito Canônico, no número 1398, diz: “Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”.

4. Nós do Movimento não podemos ficar indiferentes diante desses fatos trágicos, até porque a experiência de fé que vivemos nos leva a tomar consciência do valor e da dignidade da vida humana, a defender a vida com todas as nossas forças. Aliás, diante de uma situação como essa que estamos vendo, somos provocados a irmos mais a fundo nas razões da nossa fé, a tomarmos ainda mais consciência da beleza daquilo que a Igreja de Cristo afirma, defende e nos educa como uma mãe que ama os seus filhos, e que os protege em qualquer circunstâncias. Que graça pertencer a uma Igreja assim. Por isso, estamos totalmente de acordo com o bispo de Olinda. Aliás, podemos repetir as palavras de Cristo no Evangelho e confirmá-las hoje com o nosso testemunho (foi o que fez o bispo de Olinda): “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do mundo, a minha escolha vos separou do mundo, o mundo, por isso, vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é maior que seu senhor. Se eles me perseguiram, também vos perseguirão; se guardarem minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isso eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem quem me enviou” (Jo 15, 18-21).

5. Finalmente, não podemos compactuar com essa mentalidade que propaga a cultura da morte, que está por traz desta instrumentalização da imprensa neste caso. O objetivo do poder que domina a nossa sociedade é claro: quer criar um consenso na população de modo tal que seja mais fácil aprovar leis injustas, com a pretensão de estar lutando e favor do bem comum: basta pensarmos em projetos de lei que circulam nos bastidores do PT e de outros partidos, leis relacionadas ao aborto, sem falar na questão das células troncos, na questão da clonagem, etc. A Igreja de Cristo sempre será contra estas leis injustas, que serão sempre contrárias à lei divina.


Achamos por bem colocar estes pontos relacionados a este caso do aborto desta menina até porque, como cristãos não podemos ficar calados: a nossa experiência de fé nos obriga a julgar as coisas que acontecem diante de nós, sobretudo quando se trata de coisas que contra a dignidade da vida e, evidentemente, contra a lei de Deus.

Pe. Paulo Alves Romão, movimento Comunhão e Libertação